A melhor forma de ensinar é defender com seriedade, apaixonadamente, uma e/uma posição, estimulando e respeitando, ao mesmo tempo, o direito ao discruso contrário. Estará ensinando, assim, o dever de brigar por nossas idéias e, ao mesmo tempo, o respeito mútuo.
Numa visão progressista, o treinamento puramente técnico não é suficiente. O trabalhador tem o direito de saber a razão de ser do procedimento técnico, de refletir sobre as implicações da tecnologia, seus avanços e riscos - não um simples ato de acionar válvulas.
É fundamental para nós, profissionais de várias especialidades, ter uma posição crítica, vigilante, indagadora, em face da tecnologia. O objetivo a atingir é a possiblidade de se exercer o controle sobre tecnologia e pô-la a serviço dos seres humanos.
Todos os profissionais tem o direito de saber como funciona sua sociedade, de conhecer seus direitos e deveres, de conhecer sua história e o papel dos movimentos populares. Todos nós profissionais temos que ter uma compreensão de nós mesmos enquanto seres políticos, sociais, culturais.
Uma visão ingênua da prática educativa e vê-la como prática neutra, a serviço de ideias abstratas. A impossibilidade de ser neutro ou apolítico é que exige do educador uma ética: o que me move a ser ético é saber que a educação é política. Respeitar os educandos e não mentir para eles dizendo que estudar não tem nada a ver com o que se passa no mundo lá fora.
Mas essa intervenção do educador deve ser não a propaganda ideológica mas sim o trabalho através do qual as pessoas vão assumindo como sujeitos curiosos, indagadores, como sujeitos em processo permanente de busca, de descoberta da razão de ser das coisas.
Ensinar não é uma simples transferência de "conteúdo" ao aluno passivo. É considerar - e não subestimar - os saberes de experiências, o saber de senso comum, o saber popular. Partir sim desse saber - o que não significa "ficar nele" é um direito de todos: descobrir a razão de ser das coisas não deve ser privilégio das elites.
É necessário entender como os grupos de trabalhadores fazem sua leitura do mundo, entender sua "cultura de resistência", entender o sentido de suas festas, ver a riqueza de sua fala e de seus símbolos.
Compreender o movimento contraditório entre rebeldia e acomodação. Outra responsabilidade nossa é a coerência entre o pensar e o falar, entre o falar e o fazer. Mas a coerência não é imobilizante; posso mudar de posição no processo agir/pensar. Minha coerência necessária, se faz então com novos parâmetros. Sonhar faz parte da natureza humana - um sonho possível, uma utopia. Denunciar um presente cada vez mais intolerável, colocar um futuro a ser construído por nós. Mudar a linguagem faz parte do processo de mudar o mundo: não é preciso esperar que o mundo mude para se mudar a linguagem. A incontinência verbal, o palavreado irresponsável são um equívoco, não tem nada a ver com uma compreensão correta da luta. Suas consequências apenas retardam as mudanças necessárias.
O processo de educação não se completa na etapa de desvelamento de uma realidade, mas só com a prática da transformação dessa realidade. Essas duas práticas - conhecimento e transformação - formam uma unidade dialética.
Por Paulo Freire
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